sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Domingo na cidade

É um domingo,
Se nota mais ainda o vazio da cidade militarizada.
Carros negros com insígnias designando desativação de bombas,
Parados em ruas vazias repletas de bancos fechados.

De um emaranhado de ruas e avenidas, só uma é transitada.
A da ciclovia estabelecida onde os cidadãos saem a passear em suas bicicletas.
Ou aquelas dentro do cerco policial –
que também protege o Palácio Presidencial

Mais abaixo, o comércio de rua segue normalmente
Em barracas ou no chão,
Não distinguindo entre dias de descanso ou de agitação
Mendigos esperam à porta de caixas automáticas
Eles sabem que aí não podem ser negados.

No Café Francês onde os outros chegam de carro,
Uma conversa sigilosa entre uma moça, um jovem alemão e seu tradutor.
Algo que acontece nas Montanhas ao Oeste
e também uma menção do Caribe
A moça não quer ser ouvida.
Do que falam?
Prostituição? Guerrilha?
A conversa é baixa demais para meus ouvidos falhos.

Julia 08 de 2010

Na Sala São Paulo

Na Sala São Paulo

As bundas tocam o assento tocado por outras.

Bundas ricas são sempre bundas limpas.

Os colares, penteados,

As bolsas Luis Vuiton,

Ou talvez o branco

Dos tratamentos dentais

Dão o sinal,

Uma espécie de certificado,

100% desinfectadas, dizem.


Podem confiar,

Sentem-se sem perigo!

O preço da entrada é o mesmo do honorário da Ginecologista

Ou do Bundologista

(Qual é mesmo o médico que se especializa na limpeza da saída?)

Por isso, não poderiam deixar de ir,

No País da higiene pessoal.


Não filhinha, não,

Aqui, não é preciso!

Sente-se a vontade,

Muito Chanel N. 5,

Como se estivesse em casa...


Eu sei que te ensinei

Que quando no toilete do Shopping

Arregace as saias,

Exprima bem os músculos das coxas,

(O dinheiro gasto no treinador pessoal,

as horas naqueles exercícios especiais)

Use tamancos altos,

(Assim não molha ou arrasta as calças no chão)

Levante a bunda alguns centímetros

- quando não meio metro - do assento

(Nunca se sabe, as bactérias estão até no ar!)


O xixi vai molhar a tábua? E daí?

Vale a pena ser educada?

Se vê pelas roupas compradas no camelô,

pelas falsas Marcas,

Os germes nas calcinhas Marisa

- Como naqueles programas da National Geographic -

Nadando, se multiplicando,

No branco-não branco da tábua da privada.


Mas aqui, minha filha,

A música já é muito cara,

(se um tanto chata)

Portanto, não tenha medo,

não se acanhe,

Na Sala São Paulo da pra sentar!


Julia 08 de 2010