Afinal, ainda faltava.
O apalpar dos pés na madeira,
Tabuas largas de peroba encerada.
O cheiro da cera.
Fora, a luz da festa.
Dentro, a calma.
Só o tremer dos corpos
O silêncio abalava.
Corpos juntos,
Mão incerta procurando rosto.
O cheiro de suor,
Lembrando a dança recém deixada.
Subindo a parede,
Do lado de fora,
O pé de jasmim,
Pontinhos brancos.
E na penumbra do quarto,
Às portas fechadas,
O calor do dia, ainda presente,
Misturava os perfumes:
Da cera, das flores, dos corpos,
Da roupa de cama,
Recém lavada.
De longe, chegava o choro do fole,
O tim-tlim dos triângulos,
O tum-tum dos tambores,
Risadas.
Vagos sonidos, entrando no quarto,
Passo marcado na palma da mão,
E o sapateio requebrado.
Confortando mais,
Que se fosse o silêncio
A ser, só por eles, quebrado.
De longe também a luz da fogueira
Manchando tudo de sombras móveis.
Ora aqui, ora ali,
Encobrindo e revelando,
Desejos, soltos pedaços de corpo,
Alvos lençóis de fino algodão à espera:
Ali colhido, mas longe trançado.
A moringa de barro refrescando a água.
A lamparina há um tempo apagada.
Peça, mais peça, de roupa ao chão,
A cama esperando os corpos.
Quentes, grudentos, tremendo, suando,
Mais à vontade, ao balanço da rede,
Ou chão, pelego em cima de palha.
Afinal, ainda faltava.
Última barreira,
Ato ainda não alcançado,
Afinal, somente, o amor.
Junho 2011
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