quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Afinal, o Amor

Afinal, ainda faltava.

O apalpar dos pés na madeira,

Tabuas largas de peroba encerada.

O cheiro da cera.


Fora, a luz da festa.

Dentro, a calma.

Só o tremer dos corpos

O silêncio abalava.


Corpos juntos,

Mão incerta procurando rosto.

O cheiro de suor,

Lembrando a dança recém deixada.


Subindo a parede,

Do lado de fora,

O pé de jasmim,

Pontinhos brancos.


E na penumbra do quarto,

Às portas fechadas,

O calor do dia, ainda presente,

Misturava os perfumes:

Da cera, das flores, dos corpos,

Da roupa de cama,

Recém lavada.


De longe, chegava o choro do fole,

O tim-tlim dos triângulos,

O tum-tum dos tambores,

Risadas.


Vagos sonidos, entrando no quarto,

Passo marcado na palma da mão,

E o sapateio requebrado.

Confortando mais,

Que se fosse o silêncio

A ser, só por eles, quebrado.


De longe também a luz da fogueira

Manchando tudo de sombras móveis.

Ora aqui, ora ali,

Encobrindo e revelando,

Desejos, soltos pedaços de corpo,


Alvos lençóis de fino algodão à espera:

Ali colhido, mas longe trançado.

A moringa de barro refrescando a água.

A lamparina há um tempo apagada.


Peça, mais peça, de roupa ao chão,

A cama esperando os corpos.

Quentes, grudentos, tremendo, suando,

Mais à vontade, ao balanço da rede,

Ou chão, pelego em cima de palha.


Afinal, ainda faltava.

Última barreira,

Ato ainda não alcançado,

Afinal, somente, o amor.


Junho 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário