Um exército de moças entra no shopping. Poderiam ter sido feitas, todas elas, na mesma fábrica - a fábrica "Barverdadeira Brasileira S.A." Esperando a perfeição. Direto de ali para a exportação. É claro que de aqui a alguns anos, estas moças já teriam passado a data de validade. Seriam outras, mais bem acabadas, completas, mais 'cirurgicamente bem intervencionadas' - ecoando um elogio feito pela Veja a uma personalidade famosa - "agora com narizes perfeitos" ou "com 10% mais silicone nas bundas e seios". 10% a mais pelo mesmo preço, é claro. Só não pode é levar duas por uma, isso não! São todas boas moças de família.
O shopping, o mais novo da cidade, chegou tarde. Tão tarde que lotou imediatamente. A cidade estava ansiosa por mais alguns. Como pode, a cidade com a melhor qualidade de vida, só ter um shopping? E ainda um shopping já tão velho, pequeno. E elas saíram de suas tocas, escolas, casas de família, clínicas privadas e até das praias para encherem as praças e ruas artificiais do mais novo shopping da cidade, aquele que finalmente trazia as lojas paulistas. Assim as moças poderiam passear e ser celebridades aqui mesmo, na cidade, passear e fazer compras, sem ter que ir à São Paulo. E o shopping chegou. Já era tempo. Não importa se está em cima do mangue, que a região é alagadiça e que as casas ao redor possam inundar. Também não importa se as 17 novas salas de cinema passam os mesmos 5 filmes que passam nas outras 10 salas da cidade. Andar pelas ruas de porcelanato, ver suas reflexões nos vidros brilhantes das vitrines ou na figuras de outras moças, isso já dá satisfação demais.
Bonitas todas, sem gorduras a mais ou a menos, gorduras estas (ou será silicone?) sempre preenchendo os lugares certos. O cabelo sempre longo. Cabelo curto é só para as mais velhas - as que já passaram da data de validade - ou para alguma Atriz Global Rebelde, porque esta já pode. Os tamancos de salto alto, as calças tipo jeans apertadas e uma blusinha, engraçadinha, solta. Não são Femmes Fatales, nem muito sofisticadas, mas como naqueles filmes americanos, acessíveis, confortáveis e confiáveis - "the girl next door" - aquelas que inspiram as primeiras paixões, mas com quem se pode conversar e até casar, e sempre, sempre com um sorriso no rosto. Bonitas e simpáticas.
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